"A Teologia da Libertação não era causa minha, é a causa de uma geração, é um movimento." (Leonardo Boff)
Leonardo Boff, ex-bispo da Igreja Católica – excomungado –, e um dos criadores da Teologia da Libertação – ferrenhamente combatida pelo Vaticano pelo caráter deveras revolucionário –, cuja idéia é o combate das igualdades sociais embasado pelas teorias sociais marxistas, concedeu esta entrevista, em 1998, à revista Caros Amigos em que fala sobre o processo de excomunhão sofrido, política, religião e muito mais. É uma entrevista muito pertinente, interessantíssima, demasiadamente longa, contudo vale muito a pena. Apesar de muitos padres e seminaristas aderirem à teoria, ela perdeu força nos últimos anos.
Frei Betto – Eu queria começar com o seguinte: você tem que idade e quantos livros publicou?
Leonardo Boff – Bom, eu tenho 58 anos e 62 livros publicados.
Frei Betto – Teu pai era um erudito, ex-seminarista jesuíta, e a tua mãe morreu muito tempo depois dele, analfabeta…
Sérgio de Souza – A minha pergunta inicial era por aí mesmo: como foi a sua infância?
Leonardo Boff – Sou filho de imigrantes italianos, de avós italianos que foram para o Rio Grande do Sul e daí para Santa Catarina, no interior, e desbravaram a região que é Concórdia hoje, que é a sede da Sadia. Meu pai tinha sido quase jesuíta e fez uma opção curiosa, que foi a de acompanhar a colonização da região para ser professor, o farmacêutico, o juiz de paz, mestre-escola, puxador de orações, era um mestre da colonização.