O blog TAVERNA DOS PETULANTES é formado por seis amigos, todos estudantes da Turma 85 do curso de medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que tem como intenção escrever sobre variedades, ou seja, um espaço aberto, sem delimitações ou barreiras. Aqui você encontrará de tudo um pouco nas nossas colunas, onde cada um tem a liberdade de escrever sobre o que quiser. Mas nossa principal intenção é aumentar a voz de quem quer falar, não hesitando em nada. Somos jovens e livres, temos que aproveitar esses dois fatores, e temos como principal intenção levar a verdade ao leitor, menos do que isso não é decente. Como a TAVERNA DOS PETULANTES é um espaço aberto, sinta-se a vontade para opinar, criticar, colaborar, corrigir, elogiar (falar mal também), esse espaço é seu, leitor, somos apenas seus humildes e queridos empregados. Desde já agradecemos a todos que nos visitarem.

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segunda-feira, 2 de maio de 2011

“Não deixe que a pobreza se transforme em paisagem”

"Não é sinal de saúde viver ajustado a uma sociedade completamente doente." (Jiddu Krishnamurti*)
 








A imagem acima é perturbadora, inquietante e pede reflexão. Não deixe que a pobreza se transforme em paisagem! Quantas vezes ao passarmos por um mendigo nos damos conta dele e pensamos em sua real condição? A verdade é que não estamos nem aí, a pobreza é banal. Seguimos o fluxo do sistema – individualistas, resignados, alienados.

No prefácio de “Ensaio Sobre a Cegueira”, do português José Saramago, há a seguinte frase – “Se podes ver, repara.” Frase curta, é verdade, porém extremamente perturbadora. Somos uma raça que vemos, mas somos cegos, não reparamos. Não reparamos no caminho que fazemos todos os dias à faculdade, ao trabalho, à academia, ao supermercado... Não reparamos o quão agradável é aquele colega de turma sentado ao nosso lado na aula. Não reparamos nas coisas simples. Não reparamos na desigualdade social. Não reparamos que os necessitados muitas vezes não pedem socorro com a boca, e sim com o olhar fatigado porque pedir não adianta mais. Enfim, vemos e não reparamos.

Ora, o exemplo mais marcante está no brilhante filme latino, "Diários de Motocileta", dirigido pelo brasileiro Walter Salles - o mesmo dos sucessos "Central do Brasil", "Abril Despedaçado" e "Linha de Passe" -,  nele percebemos perfeitamente o que é uma pessoa reparar no mundo. Guevara, antes mesmo de ser o famoso “Che”, pouco antes de se formar médico, sai com um amigo sobre uma motocicleta percorrendo a América do Sul. Viagem que o mudou profundamente. Além da aventura em si, vemos a transformação em um ser humano. A miséria latente em toda América tocou aquele rapaz, que, por sua vez, deixou de ver, reparou. Reparou nas injustiças, nas mazelas.

A pobreza é uma situação institucionalizada e levamos como intrínseca à humanidade, uma vez que está presente há séculos. Seguimos com a idéia em nossas mentes de que ela é inevitável, que não há como mudar esse quadro, que podemos no máximo melhorar, mas não mudar. E assim vivemos com favelas, barracos, crianças abandonadas, mendigos ‘enfeitando’ as cidades. Já nos acostumamos, fazer o quê? Vamos viver nossas vidas, já temos nossos problemas diários para cuidar. Preocupemo-nos com o jogo de futebol de nosso time do coração, com a promoção no Shopping, com o novo sucesso de Hollywood, com a última moda, com o próximo episódio da novela, com nossas provas de faculdade... Cada qual vivendo com seus pensamentos, alheio ao seu redor, desligados, individualistas.

A bem da verdade, os desabrigados não têm importância para o sistema, eles não contribuem no giro de capital, no consumo, como também nas decisões políticas. Para o sistema é como se não existissem e, portanto, indiretamente, para nós também. Mas todas as noites oramos aos céus, pedimos ajuda aos necessitados  acreditando piamente que isso fará diferença no amanhã... Quanta ingenuidade! Assim ficamos a rezar; de braços cruzados vivemos nosso cotidiano, esperando o mundo mudar por si só, quer dizer, por si só não, que um Ser Divino o mude.

Passando para números, 1% da população mundial retém 40% de toda a riqueza do planeta, 34 mil crianças morrem diariamente de fome e doenças, e 50% da população vive com menos de dois dólares por dia. Impressionante, não? Não precisamos ir à África para ver miséria, basta repararmos os bairros mais humildes de Vitória. Aliás, a miséria estende seus tentáculos até aos bairros mais elitizados, haja vista que nestes é fácil encontrar pedintes, assaltantes, bem como moradores de rua. O trágico é quando um bairro de classe média alta de Vitória, por meio da Associação de Moradores, pretende expulsar os mendigos de suas extensões, ou melhor, “fazer a assepsia” do bairro, visto que não é agradável sair de seus suntuosos prédios, cujos apartamentos são perfeitamente mobiliados, e encontrar um desabrigado na porta, tirando a beleza do bairro. Realmente é um absurdo (afff...). A idéia deles é varrer os desabrigados para outros bairros. Ora, e isso resolve o problema da pobreza? Caro leitor, esse é o típico esboço da classe média alta e da elite que permeia este solo tupiniquim, mais preocupada com seu próprio umbigo do que com o todo.

A idéia deste texto não é mudar as coisas, obviamente. É reflexão. Se vocês tiverem em mente que não se pode deixar que a pobreza se transforme em paisagem, valeu a pena escrever este texto. Não sou eu, nem você que pode mudar algo. Somos nós. A pobreza é um caso a ser combatido com unhas e dentes. No entanto, antes de combater precisamos pensar, refletir e reparar que aquela pessoa vestindo farrapo não é melhor, tampouco pior do que você. Ela só não teve oportunidade. Sabemos que o Brasil não é um país de todos, ao contrário do que o Governo diz. A bem da verdade, o Brasil é um país de poucos, assim como o mundo. Estatisticamente falando, o mundo é de 1% da população mundial.

*Jiddu Krishnamurti foi um escritor e filósofo indiano do século XX.

4 comentários:

Alexandre Filho disse...

Valeu por roubar a idéia do meu próximo post, vou ter que começar do zero, mané! Mas tá bom pelo menos rsrsrsrs

Celta disse...

Desculpa a intromissão mas esse texto me tocou! É bem verdade a sociedade atual se habitou a ver os sem-abrigos como lixo urbano, quantas vezes eu e quase todo o Mundo passou por um sem-abrigo e fingiu que não viu? É bem verdade que a genet se preocupa demasiado com pequenos probleminhas alieanados que há vidas além da nossa que precisam da nossa. Em vez disso quem está bem na vida só se preocupa em desfrutá-la mergulhado em egoísmo. Para mudar isso tem que ser cada um de nós a mudar. Valeu!

Linik Zanetti disse...

Obrigado pelo comentario!
A ideia era justamente alertar os leitores sobre a pobreza e os desabrigados. Curiosamente este é o texto mais lido do blog até agora. E, portanto, devo ter conseguido transcrever com propriedade meu pensamento para o papel. Além disso, acho que o principal motivo deva ser o fato de que este texto discute um assunto sempre em voga - a questão social.

Anônimo disse...

Achei enteressante e me ajudou muito com o meu trabalho.