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domingo, 9 de outubro de 2011

O Rock In Rio 2011

“Hoje é rock mesmo. E por incrível que pareça, dá menos problema”. (Chefe do policiamento no festival acerca do dia do Metal)
"Rio, do you feel what I feel?!" (James Hetfield, durante a execução de 'Fade To Black')


Quando se fala em música esta é um dos únicos refúgios no mundo moderno em que faz com que milhares de pessoas se unam, independentemente da classe, etnia, sexo, religião e vários outros fatores segregantes. O Rock In Rio é o maior festival de música de todo o planeta, ganhou o mundo e retornou de onde nunca devia ter saído e, apesar de apresentações desconexas, como Claudia Leite, Kate Perry, Ivete, Kesha e muitas outras, é digno de aplausos pela estrutura, organização e público. Mas o fato é que o dia 25 de Setembro, a terceira noite do festival, foi a melhor, a mais autêntica, talvez com o público mais homogêneo e fanático, com as melhores bandas e com as melhores performances ao vivo. Isso é incontestável. Ponto. Dito isto, passemos ao que foi o terceiro dia do festival e às minhas impressões.


Ao chegarmos às imediações da Cidade do Rock nos deparamos com uma fila quilométrica, as informações nos passada mais tarde era de que ela chegava a pouco mais de 3 km, mas para mim parecia até maior, e ficamos cerca de uma hora nela. E por isso perdemos o primeiro show do dia, Matanza, no Palco Sunset. E à medida que a fila andava dávamos um ‘viva’, porque a ansiedade era grande para pisarmos o solo do Rock in Rio. Pouco antes de chegarmos na entrada havia uma igreja no lado esquerdo de onde emanava um som altíssimo para o qual simplesmente sorríamos, era cômico. Fiquei sabendo que em alguns pontos havia alguns membros com cartazes e faixas com dizeres “Rock in Rio por um mundo melhor? Só Jesus”, “Rock in Rio salva? Jesus salva”, e outros mais, mas nada disso eu vi. E, a despeito do estigma que os fãs de rock pesado levam – de ateus e loucos –, não vi ninguém fazer gesto obsceno, xingar ou se dirigir à igreja e aos fieis que estavam em frente a ela, até porque aquilo, como disse antes, era cômico, só balançávamos a cabeça e sorríamos. Aliás, só para registrar, o dia 25 foi o dia com menos furto no festival até então.

Obviamente que aquela fila gigantesca com cerca de 90% das pessoas de preto choca os puritanos, eu imagino uma família passando de carro e os filhos, crianças, vendo aquela cena... Ficariam chocados e até com medo. A quantidade de pessoas vestidas de forma espalhafatosa, com visual diferente e imitando diversos ícones do rock era um show à parte naquele lugar, era uma celebração, uma salva de palmas para cada um deles. O clima era o melhor possível, porque a música é assim, une; o rock n’ roll, então, nem se fala... E uma fila preta de alguns quilômetros cortava aquele ponto da Zona Oeste da capital carioca.

Ao entrarmos na Cidade do Rock foi uma festa, cada um que chegava agradecia aos céus, gritava, vibrava, pulava, parecíamos crianças ao chegar a Disney. Sim, o Rock in Rio é uma espécie de Disney da música para nós! E da entrada, o colossal Palco Mundo era completamente visível, estava lá imóvel, descomunal, em estado torporoso, de onde voltaria à vida algumas horas depois com um som intenso, forte, que faria pular e cantar qualquer criatura ali presente.

Saímos sorrindo, tirando fotos, algumas vezes corríamos, e, por fim, fomos em direção ao palco principal registrar o momento inesquecível. O sonho de estar em uma edição do Rock in Rio estava se realizando e de quebra veríamos dois monstros do Metal – Motorhead e Metallica. O show do Korzus, no Sunset, também não assistimos, embora parecesse estar muito bom, porque resolvemos dar uma volta, ir à Rock Street, ver toda a Cidade, passear pelos 150 mil metros quadrados. Vale ressaltar que não tem como aproveitar tudo o que a Cidade do Rock nos oferece, pois é um mundo de atrações em que você fica estupefato e empolgado, e, ainda, vê-se num dilema – assistir ao show, ou andar em um briquedo, ou assistir às apresentações musicais na Rock Street, ou, quem sabe, entrar nas lojas e restaurantes... são opções demais para apenas um dia!

Depois de algum tempo voltamos ao Palco Sunset para o show da banda brasileira de metal melódico, Angra, com a participação da ex-vocalista soprana do Nightwish, contudo o som estava muito ruim e os engenheiros de som tentavam melhorar a qualidade ao longo da apresentação – o destaque foi o dueto entre Edu e Tarja no clássico do Fantasma da Ópera. Depois veio o Sepultura – a banda brasileira de maior influência no rock – subir no Sunset com certo atraso; eu vi apenas as últimas canções, porque antes do Sepultura no Palco Mundo começou a banda brasileira Gloria, e eu e Thomaz decidíamos ir lá já que Sepultura não começava.

E no início da apresentação do Gloria a platéia cantava “Gloria, gloria, aleluia... queremos rock n’ roll”. Aqui vale um parênteses, Gloria é uma banda que lembra a sonoridade do Nx Zero e outras bandas parecidas, daí as pessoas zoarem os músicos, porém, para dizer a verdade, a banda tem azar de nascer numa época em que Nx Zero e companhia existem. Gloria, a bem da verdade, não tem muito dessas bandinhas modinhas, o som deles é verdadeiramente pesado, uma mistura de heavy metal com hardcore, mas as letras e alguns momentos de suas canções lembram, de fato, o Nx Zero. Chega até ser desconexo um som pesado daquele com letras bestas, na verdade parece que eles são um grupo feito com intuito de ganhar dinheiro, porque se quisessem fazer um rock de qualidade poderiam, têm potencial, até por suas influências musicais. E isso ninguém perdoa. Aliás, quando o Gloria tocou os clássicos “Domination” e “Walk”, do Pantera, eles ganharam um pouco a platéia, a execução foi precisa. A partir daí as chacotas quase cessaram, os músicos ganharam um certo respeito, porque Nx Zero não tem competência alguma para tocar uma canção daquelas. E, por conseguinte, o baterista do Gloria iniciou um solo de tirar o fôlego, extremamente técnico, todo mundo que viu a execução ficou fascinado. Esse baterista, provavelmente, daqui alguns anos terá o respeito nacional e, quem sabe, internacional.

Além disso, todos se perguntavam “por que cargas d’água uma banda desconhecida que se parece com Nx Zero está fazendo no Palco Mundo, enquanto Sepultura está no Sunset?” A resposta só os organizadores do evento podem responder. Por isso que a antipatia pelo Gloria aumentou. Simultaneamente, o Sepultura colocava o Sunset abaixo, rumamos para lá e pegamos as últimas canções, o show estava bom, não podia ser diferente, a maior banda de metal brasileira não podia fazer feio. Finalizando o Sepultura todos os olhos se voltaram ao Palco Mundo, ele era o centro das atenções do mundo, quer seja via internet, quer seja televisão. As pouco mais de cem mil pessoas aglomeravam-se, paulatinamente, em torno do colossal Palco Mundo.

Depois do Gloria subiu ao palco os americanos do Coheed and Cambria, praticamente desconhecidos por mim e meus amigos, e acho que pela maioria dos presentes também. Eles tinham algumas músicas que eram interessantes, alguns bons riffs de guitarra, mas eles só levantaram o público quando tocaram um clássico dos ingleses do Iron Maiden, “The Trooper”; os britânicos desta vez, infelizmente, não estavam no festival, mas foram lembrados.

Finalmente um dos momentos mais aguardados do festival estava próximo de acontecer – o Motorhead subiria ao palco! Confesso que a ansiedade por minha parte era grande, porque nunca imaginei que veria Lemmy Kilmister ao vivo tocando “Ace of Spades”. O público gritava, clamava pelo Motorhead, mas a banda demorou, subiu com certo atraso. E quando entraram Lemmy disse: “We are the Motorhead! And we play really rock n’ roll”. Nem precisa dizer que o público foi ao delírio, né? A primeira canção foi o clássico “Iron Fist” e emendando mandaram “Stay Clean”, um dos hinos feitos por Lemmy; neste momento a platéia, em êxtase, cantava e pulava, as lendas vivas estavam ali na nossa frente.

Em relação à apresentação em si, era o esperado de uma banda com 40 anos de estrada e se tratando do Motorhead. Apenas três pessoas faziam um som potente, pesado e técnico. Motorhead, a bem da verdade, é o puro rock ‘n roll com um pé no blues, nada de muito floreio, orquestrado, soa como um tapa na cara, simples e direto. As cordas do baixo de Lemmy repicavam com uma velocidade estoneante, a bateria era precisa e rápida, a guitarra, por sua vez, fazia coro com os outros instrumentos, era veloz e pesada. O que chamou mais a atenção mesmo foi a qualidade vocal do Lemmy, que já não era das melhores, e piorou drasticamente ao vivo, contudo convenhamos que ele faz demais. Um senhor com quase 70 anos nas costas que sobe ao palco e toca cerca de uma hora e meia é demais. Além disso, se levarmos em conta o fato de ele ser etilista e fumante crônico, isso piora ainda mais sua condição física e vocal. Como se não bastasse ele tremia no palco, não sei exatamente o porquê, mas dava pra ver no telão, talvez por alguma doença ou abstinência alcoólica, não sei. Porém, lá estava ele, uma lenda do metal, com o chapéu de sempre, o baixo de sempre, a postura de sempre, cantando para mais de 100.000 pessoas. Ele só sairá do palco, daquele chão que o levou à glória, quando estiver no caixão. Por isso o respeito e admiração por ele são ainda maiores, ele ama o que faz, ama a música, esta, para ele, não é dinheiro, é amor.

A importância do Motorhead é medida pela quantidade de álbuns lançados. Até hoje, a despeito da idade, eles lançam novos discos. Motorhead influenciou pelo menos duas dúzias de bandas famosas, uma delas era a atração principal do Rock In Rio – o Metallica. Isso mesmo, o sonho dos membros do Metallica, no início da carreira, era ser como a banda de Lemmy – veloz e pesada. E conseguiram por certo espaço de tempo chegar próximo...

Voltando ao concerto, teve um excepcional solo de bateria em que o público entrou em êxtase e tocaram a antológica “Ace of Spades”, cujo riff de guitarra é um dos mais conhecidos e brilhantes da história do rock. E para fechar mandaram a clássica “Overkill” – muito esperada por mim –, uma canção recheada de solos e bem pesada, em que o guitarrista brasileiro, Andréas Kisser, do Sepultura, subiu ao palco para dar um toque especial à música. Após “Overkill” a platéia estava em transe, o Motorhead deixou o palco ovacionado por cem mil pessoas, um show para se guardar na memória, de fato.

Em seguida o Slipknot se avizinhava. Não sou fã da banda, gosto de uma ou outra música, o estilo do grupo não me empolga. Na verdade, acho que é uma típica banda de adolescentes, tanto que as pessoas que mais curtiram o show deles foram aqueles que quando criança e adolescentes ouviam a banda. O new metal, estilo do Slipknot, não me agrada, é uma questão puramente pessoal, e olha que procurei escutar diversas bandas dessa vertente e várias músicas do Slipknot, mas não gostei.

Antes mesmo do Rock in Rio já tive oportunidade de vê-los em ação por DVD, e já sabia mais ou menos o que esperar. O show prometia, apesar, de como já disse, não gostar do estilo deles. Se tem uma coisa que mais difere o rock n’ roll dos demais estilos é o concerto, a ambientação, o som, as apresentações, a interação com o público é única. Além disso, é no show que conhecemos de verdade o som da banda, porque o álbum nunca é bom como um show, ainda mais no rock, cujo som é melhor quanto mais cru, forte e alto for. Por isso mesmo que se você não gostar de alguma banda, e ela subir ao palco e der tudo de si lá, você sai do show satisfeito, das canções você não gostou, mas a desenvoltura compensou tudo. Assim foi o show do Slipknot pra mim.

A palavra que melhor define o show e a música deles é – caos. Impossível pensar em outra palavra, pelo menos pra mim. O fato de eles usarem máscaras horrendas já choca, alie isso ao som pesadíssimo e a uma dinâmica de palco dos membros, sem contar com uma integração plena com a platéia, isso tudo equacionado gera uma propícia oportunidade de show chocante, intempestivo. E assim foi. Os primeiros a aparecerem foram o baterista, Joey, sem carregado nos ombros do percussionista palhaço, e a câmera focava a máscara daquele, horrenda. Ao som de uma trilha sonora de filme de terror os membros surgiam no placo paulatinamente, enquanto uma chama queimava no meio do andar superior do palco. O baterista, de braços abertos, saudava o público, que gritava freneticamente. Se eu fosse criança confesso que sentiria muito medo, pois a vestimenta da banda e o som que saía das potentes caixas de som fizeram um frio correr pela minha espinha.

O Dj do Slipknot, por sua vez, correu em direção às pessoas que estavam na grade e subiu nela para saldar os fãs bem de perto, enquanto estes tentavam tocá-lo. O vocalista, Corey Taylor, iniciou o primeiro diálogo de vários da noite, saudou os cem mil presentes e depois o som caótico da banda estourou, uma selvagem onda sonora veio de encontro aos meus ouvidos, o show começava verdadeiramente, e como era barulhento! É difícil encontrar uma lógica naquele som para mim que não sou fã, tudo soava muito intenso, forte, enquanto muitos cantavam, eu ficava mais observando, estupefato, a banda do que qualquer outra coisa. O começo da apresentação foi, para mim, difícil, precisava me ambientar.

E durante toda a apresentação dos americanos de Iowa a interação com o público crescia, os fãs cantavam com mais vigor e a banda fazia a Cidade do Rock tremer a cada canção. Usaram como set list “Before I Forget”, “Psychosocial”, “Duality”, “Wait And Bleed”, “Spit It Out” e outras mais, a apresentaçao durou cerca de uma hora e dez minutos, duração aquém do que eles estão acostumados a fazer, talvez por isso não pudemos ver o solo de bateria do Joey, no qual a bateria se verticaliza e gira em pleno ar. Contudo, no fim do show a bateria levitou durante alguns segundos enquanto Joey descia o braço na bateria, e a platéia, em delírio, aplaudia freneticamente. “Duality” ficará marcada por toda a história do festival, porque nela o Dj, Sid, subiu em uma das estruturas no meio do público, enquanto sua própria banda tocava, e saltou para os braços da galera. E você acha que ele parou por aí? Ele saltou depois novamente! E como se não bastasse fizeram 100.000 pessoas agacharem-se e, a um simples comando, levantarem de uma única vez, pulando. Para quem estivesse em casa a cena deve ter sido visualmente plástica.

Vale ressaltar que o Slipknot estava apenas com oito membros, já que o baixista que faleceu há um tempo não foi reposto e nem sabemos se será no futuro. No fim das contas o show dos mascarados do Slipknot foi sensacional, empolgante, mesmo para uma pessoa que não curte a banda, como eu. Ao fim do espetáculo era visível nos rostos em volta uma expressão de felicidade em alguns, de choque em outros e de ambos nos demais. Era impossível não manifestar sentimento algum. Era possível, ainda, imaginar por trás daquelas máscaras rostos de felicidade suprema; o próprio vocalista agradeceu efusivamente o público ao fim do show e logo depois deu um abraço caloroso no baterista, como se eles se felicitassem pela maior apresentação ao vivo de suas carreiras, e foi mesmo! Antes de eles virem pra cá tive a oportunidade de ler uma entrevista deles dizendo que esperavam ansiosamente pelo festival, pois seria a maior audiência da história da banda e uma forma de retomar o trabalho após a morte do amigo de banda.

Agora, finalmente, vem o gran finale, o momento mais esperado da noite, quiçá de todo o festival. Antes de mais nada, vale lembrar que o Metallica foi a banda, de longe, mais votada para tocar no festival, e faziam 12 anos que eles não pisavam no Rio de Janeiro, então a platéia estava polvorosa, sedenta pelos americanos. Antes de eles subirem ao palco debatíamos com as pessoas em volta qual seria a música de abertura e todos foram unânimes – “Creeping Death”. Nem precisa dizer que acertamos, né? As luzes se apagaram e um filme começou a ser exibido nos telões, era uma cena de faroeste, do filme “Três homens Em Conflito” do diretor Sérgio Leone – que dirigiu inúmeros faroestes e um dos melhores filmes de máfia, “Era Uma Vez na América”, ao lado de “O Poderoso Chefão”, “Os Intocáveis” e “Os Bons Companheiros”. Ao mesmo que a cena se desenvolvia com um cowboy em meio a um cemitério correndo a esmo, a instrumental “Ecstasy of Gold” saía das potentes caixas e entoávamos o som da canção com os olhos vidrados na clássica cena do filme.

Lars Ulrich surge, saúda os poucos mais de cem mil presentes, e “Creeping Death” começa, pesada, rápida, cortante, enquanto íamos ao delírio, ali estava uma das bandas mais importantes do Thrash/Heavy Metal. Emendado mandaram mais um clássico das antigas e do mesmo álbum, “For Whom The Bell Tolls”, se ainda havia alguém sonolento até aquele momento a pessoa acordou, porque cem mil pessoas pulavam, o chão tremia. “Fuel” veio em seguida para a felicidade de minha amiga Hana, ao mesmo tempo em que labaredas de fogo surgiam no palco. James Hetfield, após “Fade To Black”, elogiou o público e disse em alto e bom som que aquela noite era a melhor do festival, e se alguém estivesse com dúvida o show do Metallica fez dissipá-las. Aliás, a noite do Metallica foi o recorde de audiência de todo o festival, o Youtube transmitia ao vivo para mais de 200 países e foi também o recorde de acessos da história do site. E desculpem-me, mas se um festival cujo nome é Rock In Rio o melhor dia não for um dia com Metallica, Motorhead e cia, sendo que os demais eram bem aquém, então o mundo teria perdido as referências do que é rock n’ roll. No entanto, felizmente, o terceiro dia do festival era, de fato, o melhor. Lá estava uma banda com 40 anos de carreira e outra de 30.

O Metallica tocou basicamente clássicos, exceto “All Nightmare Long” e “Cyanide” do último disco. A propósito, Metallica de verdade é o dos anos 80, queriam ou não. Os quatro primeiros álbuns eram incrustados de peso e velocidade como uma banda de Thrash Metal deve ser, mas depois eles diminuíram o pé, caíram totalmente no Heavy Metal, perderam um pouco daquela velocidade, mas ainda era sensacional, dizer que o “Black Álbum” é ruim, é um pecado, pois é um dos melhores da banda, porém tinha perdido um pouco da agressividade. Depois vieram os fracos “Load” e “Reload”, de influência Hard Rock, em que só as canções “Fuel” e “The Memory Remains” prestam. Mas o Metallica ainda podia piorar, lançaram o esdrúxulo “St. Anger” que foi o fundo do poço, nele flertaram com o New Metal. Ou seja, de um poderoso Thrash/Heavy Metal eles caíram na nova onda – o New Metal. Isso é o Metallica? Eis que vem o “Death Magnetic”, e eles tentam retomar a velha e boa fórmula que os projetaram para ser a maior banda do Thrash e do Heavy Metal do planeta. Claro que para isso eles lançaram mão da MTV e muitos outros veículos de comunicação, porém eles hoje estão no topo.

Enfim, voltemos ao show, eles tocaram verdadeiros hinos, como “Master of Puppets”, “One”, “Enter Sandman”, “Nothing Else Matters”, “Fade To Black”, “Seek n Destroy” e muito mais, a lista é longa. Destes, “Seek n Destroy” e “Master of Puppets” foram as mais empolgantes, visto que esta é a essência do Metallica, todo mundo cantava a pleno pulmões o refrão, e aquela, além de ser uma das melhores canções deles, sabíamos que era a última do show, logo banda e platéia deram tudo de si. Ora, a energia e a sintonia do Metallica com a platéia era a melhor possível, os músicos sorriam enquanto tocavam, o público entoava as letras com fervor, pulava, gesticulava. Ao final da apresentação James e companhia eram só sorrisos, a felicidade de um show memorável era nitidamente estampada, eles quebraram o protocolo do festival, tocaram muito além do que a organização determinou, eles estavam felizes por isso, e nós também!

O show, ainda, contou com labaredas, fogos de artifício de belos efeitos visuais, e outros que simulavam tiros e granadas na introdução da “One” cuja letra remete a um personagem que não consegue esquecer o terror da batalha e vive com sequelas físicas e psicológicas. A energia, entretanto, foi o mais avassalador e emocionante, não havia ninguém que desgrudasse os olhos do palco, a apresentação foi memorável, eles escreveram o nome na história do festival. Os próprios membros ao final da apresentação agradeceram efusivamente o público, o sorriso deles ia de uma orelha a outra e disseram voltar em breve, porque o Rio de Janeiro não pode ficar fora do mapa deles após uma apresentação daquelas. O dia 25 de Setembro de 2011 será o dia em que poderei contar a meus filhos e netos que vi o Metallica e o Motorhead ao vivo. Aliás, com uma apresentação daquelas o Metallica deveria ser imortal, para que todo ser vivo pudesse ter a oportunidade de vê-los ao vivo. É impressionante cantar aqueles clássicos e assistir a suas execuções, ou melhor, é inesquecível.

Indubitavelmente que o festival não foi apenas um mar de rosas, porque o Rock in Rio ter um único dia dedicado ao rock n’ roll puro parece até brincadeira, mas, infelizmente, é real. Dos sete dias somente três podemos dizer que era de rock, sendo que no dia do Red Hot Chilli Peppers não havia muita coisa boa e no dia do Guns n’ Roses, idem. Em resumo, o dia 25 lavou a alma do festival. Claro que o Rock in Rio não nasceu como um festival puramente dedicado ao rock, vide o de 1985, porém os dias eram esmagadoramente rock, e todos eles recheados de ótimas atrações. Hoje, entretanto, é fácil escolher o dia em que você vai, pois só um presta para quem gosta do bom e velho rock n’ roll. E ainda a senhorita Claudia Leitte fez questão de atacar quem a criticou no festival, dizendo que quem gosta de Heavy Metal é nazista, preconceituoso, por se achar superior musicalmente. Em primeiro lugar, o dia em que ela tocou era dia Pop, não havia quase ninguém do rock pesado lá. E em segundo lugar, desde quando as letras toscas e vazias dela, como “eu quero é mais beijar na boca” é algo digno de aplausos? Em terceiro lugar, a música dela em si é pobre, ninguém precisa ser muito técnico em instrumento algum para tocar aquilo. E ainda ela vem dizer que nos achamos? É indiscutível que nossas bandas são infinitamente superiores ao que ela faz. A propósito, o que tem a ver axé com Rock in Rio? Vamos mandar o Metallica para o Carnaval 2012 para ver se eles gostarão, então. A organização do evento deveria sim rever certos conceitos sobre o que é o Rock in Rio, visto que ainda há ótimas bandas de rock no mundo, por que não chamá-las? Para quê trazer Ivete, Kesha, Claudia Leite e cia? Encher os bolsos dos empresários do festival? Acho que não, pois eles estariam tão cheios quanto se tivessem trazido Rush, AC/DC, Whitesnake, Judas Priest, Iron Maiden, Deep Purple e muitos outros.

De qualquer forma, o festival é indispensável àqueles que gostam de música. Se você ficou com certa inveja ou desejo imensurável de participar de alguma das edições sugiro que faça o mais rápido possível, pois ver pela TV não chega nem a um milésimo do que é estar no meio daquela massa. O problema é que o número de ingressos encolhe a cada festival, neste eram apenas 100.000, ao passo que nas edições anteriores chegamos à marca de 250, 350 e 450 mil ingressos vendidos para um dia. Portanto, o Rock in Rio tem seu público encolhido e suas atrações pioradas, em contrapartida o luxo, a audiência e o nome cresce cada vez mais. Mesmo assim o dia 25 de Setembro de 2011 foi sensacional, para minha felicidade e de meus amigos de turma e de blog, Hana e Thomaz!

Vídeos sobre como foi o terceiro dia:


Confira pelo menos o início da apresentação épica do Metallica:


Minha opinião sobre alguns dos shows que vi:
Melhor show:

*Metallica: um set list quase impecável e uma apresentação fantástica.
*Motorhead: Lemmy e companhia sempre fazem grandes apresentações.
*Elton John: para mim foi o grande show do primeiro dia do festival, tocando clássicos desses seus quarenta anos de música.
*System Of A Down: fizeram um ótimo show, é bom saber que eles voltaram, pois é uma das poucas bandas atuais que eu verdadeiramente gosto.

Pior show:

*Claudia Leitte: achou que estava numa micareta, faltou-lhe senso para isso, e num espaço com 100.000 pessoas queria que todos fizessem a famosa “corda do caranguejo”, sendo que não há espaço nem para se mexer direito. Como se não bastasse assassinou um clássico do Led Zeppelin: “D’Yer Maker”, foi vaiada e depois criticou os roqueiros.
*Guns n’ Roses: meu amigo Thomaz que me desculpe, mas não deu para engolir aquele show no Rock in Rio. Nunca gostei da voz do Axl Rose, e ela conseguiu piorar em escala logarítmica, desafinava no palco cantando até os clássicos. O Guns, hoje, não tem nada do que foi a banda um dia, o nome poderia ser perfeitamente Axl’s Band, a magia da banda se foi há tempos. Só os fãs não percebem.
*Angra + Tarja Turunen: o som estava horrível, o que dificultou e tirou muito da qualidade da apresentação, tinham um ótimo set list e cantaram o clássico do Fantasma da Opéra (“The Phantom Of The Opera”).

Show surpreendente:

*Titãs e Paralamas do Sucesso: a apresentação das bandas em conjunto foi espetacular, cantando clássico que marcaram o rock nacional, a comunhão com a platéia foi a melhor possível.
*Slipknot: já disse ao longo do texto. O show foi épico, apesar de não gostar do estilo da banda, a presença de palco é irrepreensível.
Stone Sour: a banda paralela do vocalista do Slipknot apresentou-se um dia antes e fez um show sensacional, com a participação de um dos melhores bateristas da atualidade, o ex-baterista do Dream Theater, Mike Portnoy. Pena que eles estavam deslocados, era uma banda deveras pesada para estar no dia do Red Hot, Capital e Snow Patrol, por isso o público não soube aproveitar tão bem.
*Red Hot Chilli Peppers: está aqui, e não no melhor show, pois eu estava receoso pela apresentação da banda sem o grande guitarrista John Frusciante que dava um toque refinado aos shows e às canções. Depois que assisti algumas partes do show pelo youtube vi que o novo guitarrista e a banda souberam manter praticamente o nível, mas que ele faz falta, isso faz!
*Mike Patton: o ótimo vocalista cantou clássicos da música italiana com uma orquestra e ao ritmo do rock, ele encantou a todos no Palco Sunset.


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