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sábado, 14 de janeiro de 2012

Jesus Camp – Um futuro que se avizinha?

“A verdade não pode ser trazida para baixo; é o individuo que deve fazer o esforço de ascender até ela.” (Jiddu Krishnamuti)



Jesus Camp é um documentário de 2006 que mostra um acampamento religioso no qual crianças e adolescentes aprendem a doutrina cristã nos EUA. Trata-se de um documentário extremamente imparcial e somente o telespectador tem o poder de decidir quais as reais implicações do acampamento. O fundamentalismo religioso alastra-se tal qual uma praga e o Cristianismo, ao contrário do que se acredita, não fica isento. Contudo, é só assistir a Jesus Camp para termos a certeza de que não apenas o fanatismo religioso está muito presente entre nós, como também tende a imacular a sociedade.



A bancada religiosa aumenta em quantidade e em poder nos setores da política. Ora, quando digo bancada religiosa leia-se aquelas pessoas que não despem sua fé onde deveria, isto é, estão lá para defender os interesses de sua crença, de sua igreja, em detrimento do povo. Indubitavelmente vemos casos correntes de políticos que, munidos de uma bíblia invisível sob a axila, discursam nas casas Legislativas, emperram discussões de crucial importância à sociedade, pois sua fé é contrária ao que se propõe, e, como se não bastasse, muitos ovacionam a fala daquele político. Querendo ou não, este é um problema de capital importância na sociedade atual, as pessoas não respeitam o Estado ser laico, elas não se desfazem de seus preceitos religiosos onde deveria, e ainda conseguem manipular as massas que seguem sua mesma crença contra determinados assuntos, tais como aborto.

Voltemos, no entanto, ao acampamento religioso do documentário. O acampamento me parece um reduto muito mais de formação política do que da fé cristã, uma maneira de fazer uma espécie de lavagem cerebral. As crianças nunca pensam, não debatem acerca das questões, são impostas, resta-lhes unicamente aceitarem e, de certo modo, passar a legislar a favor da questão religiosa. No começo há uma cena em que uma mãe diz que ensina o filho em sua própria casa, pois na escola ele aprenderia o Evolucionismo. Ora, isso é ou não fanatismo? Em outro momento, no final do filme, enquanto os créditos descem na tela, duas crianças entregam panfletos aos transeuntes, elas atravessam a rua, e perguntam a um senhor: “quando você morrer vai aonde?”, “para o ceu”, ele responde, “tem certeza?”, indaga a menina, “sim”, diz o senhor. Por conseguinte, quando eles atravessam novamente a rua a menina diz para seu amigo “ele tem cara de muçulmano, ele não me engana”. Neste momento evidencia-se de forma clara o fanatismo religioso que conduz a vida destes meninos, vivem para a fé cristã e tudo que foge a esta realidade é ignoto, feio, errado, não digno de salvação.

Deste modo, estas crianças vão sendo moldadas a pensar como fanáticos religiosos, sem vislumbrar um horizonte mais amplo, sem ter a capacidade de raciocínio crítico, uma vez que desde cedo lhes ceifaram esta oportunidade. Alguns, entretanto, quando mais velhos, desprender-se-ão das amarras invisíveis que o acampamento lhe atou, mas serão muito poucos, infelizmente. Aquelas crianças, com efeito, são preparadas para levar a palavra de Deus, isso ficou claro desde o início, mas também, o telespectador atento, percebe o lado negativo disso tudo, a perda da lógica. Seguindo a famosa frase de Descartes “penso, logo existo”, é notório que essas crianças não existem, elas reproduzem passionalmente aquilo que lhes foi passado, defendem com suas próprias vidas os preceitos; são soldados de Cristo no sentido mais pejorativo da palavra, são manipuladas, mesmo assim todo ano o acampamento vive lotado.

Agora, lanço a pergunta: mandaria seu filho a um acampamento deste tipo? Eu não; não acho salutar, crianças devem brincar, preocuparem-se pouco com assuntos deveras importantes, com o amadurecimento elas devem escolher por si próprias em que seguir, em que acreditar, de forma racional, e não como robôs.

Obviamente que aquele acampamento é um reduto do conservadorismo da bancada religiosa norte-americana, aquelas crianças serão o futuro da nação, assim como Bush se auto-denominou “o enviado de Deus para combater o terrorismo” e o povo saudou seu discurso há alguns anos; essas crianças futuramente aplaudirão novos discursos manipulatórios desse mesmo tipo, isso se nenhuma delas o estiver fazendo.

E não pensem que este tipo de coisa esteja longe de nós, do nosso Brasil, porque aqui o conservadorismo religioso espalha-se furtivamente diante de nossos narizes, como foi o caso recente daquele jovem que matou a tiros crianças numa escola carioca. Além disso, quem nunca viu um ateu sendo alvo de preconceitos neste país? A religião é um problema grave, mas ainda pode piorar muito, porque a manipulação, a falta de raciocínio, a precária educação, o quadro político, econômico e social, conduzem a um panorama que pode ser bastante conflituoso. O Brasil sempre se gabou de ser um país de diversidade, inclusive de crenças, porém cada vez mais o preconceito a religiões como Candomblé, Umbanda, e outras se faz presente. Isso se você não considerar as alfinetadas entre católicos e protestantes, e até mesmo entre as próprias religiões protestantes.

Enfim, a religião, por sua diversidade, é um caldo potente para brigas, conflitos e jogos de interesses, isso é muito claro. A religião institucionalizada trouxe-nos muitas desgraças, é inegável, até hoje ela continua a nos trazer, vide as querelas religiosas espalhadas pelo globo. Se analisarmos friamente veremos que a religião, pensando como sociedade, coletivamente, trouxe-nos mais problemas que soluções, isso é fato, qualquer pessoa sensata haverá de concordar. Para mudar este quadro vejo apenas uma salvação – a não institucionalização da religião. Mas isto é impossível, porque se você já leu Karl Marx sabe perfeitamente que a religião é um pilar imprescindível do sistema em que vivemos, ela é, além disso, “o ópio do povo”, ceifar a religião quanto instituição é o mesmo que iniciar a derrocada do Capitalismo. Portanto, viveremos ainda por muitos séculos brigando por motivos ridículos, e os acampamentos como em Jesus Camp tem sua importância neste quadro maléfico.

Trailer:

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