Bergman dirigia e escrevia seus próprios filmes, todos levavam seu modo de pensar. Qualquer um que esteja atento às cenas, por mais inculto que seja, é capaz de perceber a genial construção dos diálogos, a sensibilidade latente dos temas abordados, bem como da atuação das personagens. Bergman manteve-se afastado de Hollywood, do lixo comercial norte-americano, que produz muito mais porcarias que genialidades, por isso não é muito conhecido pela mídia e pela população, embora tenha vivido 89 anos e feito diversos filmes.
Bergman vagava principalmente pelo drama, com temas muitas vezes pesados porque procurava explorar muito suas próprias sensações, seu modo de ver o mundo e levar o telespectador ao choque e ao raciocínio. Não assista a um filme dele achando que se divertirá pura e simplesmente, mas também será atingido, dragado por inquietações, eis a arte de Ingmar Bergman! O sueco abordou temas de fé em “O Olho do Diabo” e “O Sétimo Selo”, devido ao seu ateísmo pungente. O primeiro é um misto de comédia com drama, com um roteiro muito bem amarrado que nos impede de desgarrar os olhos da tela porque desejamos saber se o intento do Diabo será realmente concretizado, sem contar os questionamentos filosóficos.
“O Sétimo Selo”, por seu turno, é uma de suas obras-primas, com ele lançou-se sem volta ao estrelato; foi, inclusive, o primeiro filme que vi. Um guerreiro retorna das Cruzadas e a Morte aborda-o, porém, numa tentativa desesperada de ganhar tempo ele propõe um jogo de xadrez. Durante a película vemos as perguntas, os temores, e os sentimentos angustiantes por que passa o personagem sabendo que morrerá e vendo a Europa consumida pela Peste Negra. Uma obra-prima do cinema mundial, sem dúvidas.
Numa entrevista à Playboy ele disse: “todos têm demônios pessoais, e o que aprendi foi que posso domá-los e fazê-los trabalhar em meu benefício”, por isso que “rola uma química” entre o telespectador e seus filmes, os roteiros não são vazios, mas é aquela lei do tudo ou nada – Bergman ame ou odeie. Não há meio termo em sua poética e perturbadora cinematografia.
Os filmes de Bergman em sua maioria são muito velhos? Sim, mas os temas permanecem atuais, são, como disse ao longo do texto, fruto de sua personalidade, de suas inquietações. Mesmo filmes como “Persona” e “Gritos e Sussurros” tornaram-se clássicos nos anos 70 e não perderam a magia após cerca de 40 anos. Bergman, ainda, faturou alguns Oscars na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
É fato que um cinéfilo que se preze assistirá a Bergman, assim como Godard, François Truffaut, Stanley Kubrick, Tarkovski, Buñuel, Hitchcock, Terrence Malick, Almodóvar, Lars von Trier e muitos outros, resta a saber se você também deixar-se-á levar pelos gênios da sétima arte. E aí, você tem medo dos filmes cults?
Filmografia Bergman:
2003 - Saraband (digital)
• 2002 - Anna (TV)
• 2000 - Bildmakarna (TV)
• 1997 - Larmar och gör sig till (TV)
• 1995 - Sista skriket (TV)
• 1993 - Backanterna (TV)
• 1992 - Markisinnan de Sade (TV)
• 1986 - Documentário sobre Fanny and Alexander
• 1984 - Depois do Ensaio
• 1983 - Karins ansikte
1982 - Fanny & Alexander
• 1980 - Da Vida das Marionetes
• 1979 - Farödokument 1979
• 1978 - Sonata de Outono
• 1977 - O Ovo da Serpente
• 1976 - Face a Face
• 1974 - A Flauta Mágica
• 1973 - Cenas de um Casamento
1972 - Gritos e Sussurros
• 1971 - A hora do Amor
• 1969 – Farödokument
• 1969 - O Rito
• 1969 - A paixão de Ana
• 1968 – Vergonha
• 1968 - A Hora do Lobo
• 1967 – Stimulantia
1966 – Persona
• 1964 - Para não falar de todas essas mulheres
• 1963 - O Silêncio
• 1962 - Luz de Inverno
• 1961 - Através de um Espelho
• 1960 - O Olho do Diabo
• 1959 - A Fonte da Donzela
• 1958 - O Rosto
• 1957 - No Limiar da Vida
1957 - Morangos Silvestres
1956 - O Sétimo Selo
• 1955 - Sorrisos de uma Noite de Amor
• 1955 - Sonhos de Mulheres
• 1954 - Uma Lição de Amor
1953 - Noites de Circo
1952 - Monika e o Desejo
• 1952 - Quando as Mulheres Esperam
• 1951 - Juventude, Divino Tesouro
• 1950 - Isto não aconteceria aqui
• 1949 - Rumo à Felicidade
• 1949 - Sede de Paixões
• 1949 – Prisão
• 1948 – Porto
• 1948 - Música na Noite
• 1947 - Um Barco para a Índia
• 1946 - Chove em Nosso Amor
• 1945 - Crise
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