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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A magia do The Wall

“We don’t need no education. We don’t need no thought control.” (Pink Floyd – ‘Another Brick In The Wall Pt. II)


O texto escrito adiante não é de minha autoria, foi retirado do site de Whiplash, e faz uma análise crítica do album duplo “The Wall”, do Pink Floyd, muito além da música. Divirtam-se!


Muitos de nós, floydianos, somos fãs do Pink Floyd por causa da voz suave de Roger Waters, dos ótimos solos de guitarra de David Gilmour, do estilo "dó-ré-mi" de Nick Mason ou dos lindos acordes de Richard Wright. Admiramos os shows, as letras simbólicas e progressivas, a incrível capacidade de demonstrar sentimentos pela música, e muitas outras qualidades mais.  Porém, existe uma característica no Pink Floyd que poucas bandas possuem, e que atrai milhões de fãs em todo o mundo: a possibilidade de se envolver com as letras. E, com certeza, o álbum THE WALL (e o filme) é o que mais tem essa capacidade de entrar em nossos corações. Podem chamar isso de alienação, mas, confesso que se eu não pudesse desabafar às vezes ouvindo aquele solo de guitarra em Comfortably Numb no último volume, já teria encontrado alguma outra forma menos sadia de acabar, ou pelo menos de me aliviar das preocupações (drogas, por exemplo).

Alguns podem achar exagero, outros sabem muito bem do que falo, porque também o fazem. E eu digo para vocês: se você não entrar na história, não se envolver, o álbum THE WALL será sempre um simples CD (ou vinil) duplo da capa branca, com "azulejos" e monstrinhos desenhados e que tem aquela música do "Hey teacher!". Porém, se você assistir ao filme, deixar as músicas entrarem em seu coração, e passar a enxergar o muro que envolve a cada um de nós, verá que THE WALL retrata as nossas próprias vidas, nosso sofrimento de pessoas inteligentes que se importam e sofrem com o mundo que está aí.

A HISTÓRIA
Na verdade tudo começou com "Animals", que era uma espécie de pré-The Wall, onde Waters, inspiradíssimo no livro de George Orwell, "A Revolução dos Bichos", (para mim o melhor livro que ja li) critica o caráter do ser Humano comparando-o a animais, onde tudo acaba como começa: antes os fazendeiros dominavam seus animais, até estes decretarem uma revolução contra seus donos, expulsando-os. Eles abominavam qualquer tipo de atitude semelhante a um humano, lembrem-se "quatro patas bom, dois pés ruins". Depois de muito tempo, a ganância e o poder sobem às cabeças de seus líderes(os Porcos) que no final acabam agindo igualmente aos seus ex-donos Humanos e começam a se vestir com roupas e andar como Bípedes e no final se torna "quatro patas bom, duas melhor ainda". Então Waters radicalmente desenvolveu sua crítica criando The Wall.

THE WALL significa "o muro" em português. Este muro é algo abstrato, um sentimento de angústia que prende nossos corações e nos isola do mundo, nos dando a impressão de que não existe saída para nossos problemas.

Marcado pelas letras amargas compostas por Waters, o disco tem uma qualidade sonora marcante, com destaque para a atuação de Gilmour na guitarra. Está repleto de ruídos, gritos, vozes, mensagens ocultas, diálogos, faz a alegria daqueles que procuram os mínimos detalhes.

O grupo começou a se dissolver com as diferenças que surgiram entre Waters e Wright, causadas pelo início da paranóia de Waters e pelo consumo de cocaina de Wright. Wright acabou deixando o grupo, tocando como músico contratado durante os shows.

O custo dos shows era tão elevado que o grupo simplesmente levou prejuizo. Wright, como contratado, recebeu seu salário e saiu limpinho. The Wall foi um verdadeiro sucesso comercial, permaneceu no topo das paradas americanas por 15 semanas e levou o disco de platina em março de 1982 por ter vendido um milhão de cópias.

Waters fez de tudo para demonstrar que todos os acontecimentos ruins da vida do personagem da história (ele adotou o nome Pink Floyd para ele, lembram?) não foram provocados, mas eram inevitáveis. Coisas que acontecem e existem, e que não se podem mudar.

Embora no álbum a idéia que se passa não seja essa, no filme, toda a história se desenvolve em um devaneio do "Sr. Floyd", sentado em seu quarto e olhando fixamente para a porta. Sonho esse formado por lembranças de sua vida (péssimas, por sinal).

Em "In the Flesh?", nosso herói (interpretado no filme por Bob Geldof) nos convida a descobrir o que há por trás daquele olhar frio e do seu disfarce "nazista". E, nessa mesma música, Floyd relembra a primeira desgraça inevitável de sua vida: a morte de seu pai na 2ª guerra mundial (o pai de Waters realmente morreu nesta guerra) ainda na sua infância, pelo avião que aparece no filme e na música.

Guerra é o primeiro absurdo do mundo retratado na obra, e influenciará a personalidade do menino Pink para o resto de sua vida. "When the Tigers Broke Free", "The Thin Ice" e "Goodbye Blue Sky" são as músicas que introduzem, junto com "In the Flesh?", o tema guerra na história.

Aliás, em "Goodbye Blue Sky", pode-se notar uma severa crítica ao Governo, mais especificamente o da Inglaterra. No filme, a bandeira inglesa se transforma em uma cruz fincada no chão e sangrando, significando que por trás do ideal de defender a bandeira se esconde a morte. "Foi assim que o Alto Comando tirou meu pai de mim", diz a letra de "When the Tigers Broke Free".

Outra influência que a morte de seu pai trouxe foi a própria ausência deste no desenvolvimento de Pink. Isso é mostrado na cena em que ele está no parque, sozinho, e encontra um senhor que lhe parecia simpático. Pede a ele para que o ponha em cima do brinquedo. Porém, quando Pink pensou que havia encontrado um pai, o homem rejeita sua mão e empurra-o para longe. Triste, o menino senta no balanço, sozinho, e observa as outras crianças felizes, brincando com seus pais.

E o muro ganha sua pedra fundamental, seu primeiro tijolo. Afinal de contas, a morte do pai na guerra foi para Floyd apenas um tijolo no muro, como diz a música "Another Brick in the Wall part I".

"The Happiest Days of Our Lives" e a clássica "Another Brick in the Wall part II" (quem não conhece "aquela do Hey Teacher!"?), põem em discussão outro alicerce de nossa sociedade: a educação. Roger Waters define a educação como uma alienação (representada no filme pelas máscaras com botões no rosto das crianças), fazendo com que as pessoas, ainda crianças, percam sua identidade própria e pensem o que o Governo quer que elas pensem. O sarcasmo e a violência com que os professores tratam os alunos (segundo Waters) na sala de aula são atribuídos aos problemas que eles (professores) enfrentam em casa com suas "esposas psicopatas e gordas". No filme, o pequeno Pink sonha em ver todos os alunos destruindo a sala, queimando a escola e jogando o professor no fogo, enquanto Gilmour toca seu solo de guitarra. Destruir a escola é uma atitude própria de quem não foi alienado pela educação, e por isso é contra ela.

Cabe aqui uma observação: muitos de nós, fãs do Pink Floyd, não damos o devido valor à música "Another Brick in the Wall part II", um verdadeiro clássico do rock mundial. Porém, nunca devemos esquecer que é esta a música mais famosa de nossa banda. Além do mais, que outro grupo de rock teve a coragem de colocar as próprias crianças cantando contra a educação? É exatamente esta ousadia que faz desta música uma das maiores e mais conhecidas do mundo. "Another Brick in the Wall part II" acabou se tornando um símbolo da revolta. Não da revolta pura e simples, sem motivo; mas da revolta consciente, de pessoas que não se acomodam com o que vêem de errado e precisam se manifestar.

Terminada a observação, voltemos à história.

Outro grande fator que viria a influenciar a personalidade do menino Pink é a superproteção por parte de sua mãe ("Mamãe vai te ajudar a construir o muro"), retratada primeiramente na música "Mother". A infinidade de perguntas que Pink faz a sua mãe na letra da música indicam a sua dependência com relação a ela. Waters procurou (como não podia deixar de ser) estender as características da mãe no filme a todas as mães, usando frases como "Mamãe vai sempre descobrir onde você esteve", "Mamãe vai checar todas as suas namoradas", "Você será sempre um bebê para mim", entre outras que realmente expressam como são a grande maioria das mães.

"Mãe, será que devo construir o muro?". Aqui já podemos perceber o desejo do menino de se isolar do mundo. 

Todo casamento acaba esfriando. É sobre isso que fala a letra de "One of my Turns", o momento onde a rotina toma conta do relacionamento e marido e mulher perdem aquele amor dos primeiros anos. "Com o tempo eu envelheci, você se tornou fria e nada mais tem graça". Seguindo esta linha de raciocínio, pode-se muito bem pensar que a mulher que aparece falando com Floyd no início de "One of my Turns" é a sua esposa, e não uma fã ("Este lugar é maior do que nosso apartamento!").

Bem, seja lá como for, "Don’t Leave me Now" é a hora da traição e, em "Another Brick in the Wall part III", Floyd declara a traição de sua mulher como mais um tijolo no muro, assim como todas as pessoas que o fizeram sofrer: "Vocês não passaram de tijolos no muro".

Agora o muro está completo.

A partir de "Goodbye Cruel World", ocorre uma mudança muito importante no filme: Floyd, dá adeus ao mundo real, e passa a "viver" no mundo que há dentro de seu muro, que, no filme, deixa de ser uma abstração e toma forma "real". O filme entra então numa fase de extremo simbolismo, com cenas mais loucas e de compreensão mais difícil. A história se desenrola em duas linhas: a da vida real e a das viagens dentro do muro.

Durante "Is There Anybody Out There", "Nobody Home" e "Vera", Floyd fica vagando pelo mundo de dentro do muro.

"Comfortably Numb" é o cúmulo da tristeza. Sem dúvida, esta música deve ocupar, juntamente com "Another Brick in the Wall part II", um lugar entre as melhores músicas do Pink Floyd e do Rock mundial. Tudo isso acontece enquanto David Gilmour executa um dos melhores solos de toda a sua carreira (se não o melhor), expressando toda essa revolta de uma maneira enérgica, mas ao mesmo tempo "bonita".

Nos shows, aquela esfera espelhada que aparece sempre que "Comfortably Numb" é tocada representa o desejo de manifestar a revolta a todo o mundo, através dos raios de luz, e também do solo de guitarra.

Outro momento importantíssimo da história: Floyd consegue se livrar da sua pele e, por baixo dela, aparece um uniforme estilo nazista. Percebe-se aí a grande influência da morte de seu pai na 2ª Guerra Mundial (lembrem-se que foi esta a guerra contra o nazismo). A suástica dá lugar a dois martelos cruzados, representando o desejo de se derrubar o muro, ou seja, se libertar das angústias e viver normalmente.

Aqui você deve estar pensando: mas não foi o próprio Floyd que construiu o muro para se isolar do mundo? Por que agora ele quer derrubá-lo?

Para entender esta aparente contradição, você deve se colocar no lugar da personagem. Você com certeza não iria querer se isolar do mundo. Floyd também não. Porém, se aqueles fatos (morte do pai, mãe superprotetora, professor carrasco, traição da mulher) acontecessem em sua vida, certamente no seu inconsciente haveria um desejo de se isolar. O muro é construído no inconsciente, e nós só nos damos conta de seu tamanho quando ele está muito alto. Traduzindo para a linguagem do mundo real, nós nos isolamos quase sem querer, e só percebemos nosso isolamento quando já estamos quase sem saída para nossos problemas. Neste ponto, você também não ia querer quebrar o muro?

Floyd vai para o show. Mas, em sua cabeça, atordoada pela injeção e pelo muro, o show toma uma aparência nazista, com braços esticados e tudo o mais. "In the Flesh" e "Run Like Hell" são as músicas deste trecho.

Pode ser uma nova referência aos governos (com Floyd fazendo o papel de "líder político", alguém como Hitler). Neste caso, o significado da cena seria que todo tipo de governo pode ser comparado ao nazismo, pois todo governo acaba alienando as pessoas através da educação e da propaganda. Podemos muito bem tomar o exemplo do Brasil. Como pode um presidente entregar o seu país ao capital estrangeiro de uma forma tão grotesca e o povo não fazer nada? Acabar com a educação e com a saúde e ninguém perceber? Isso pode ser explicado pelo simples fato de que o nosso povo é alienado, assiste TV demais e acredita em tudo o que o governo diz através dela. Não se importa com a política de seu país e ainda acha que só "Fernandinhos" têm a capacidade de governar. Alienação pura !!!

Waters está criticando seus próprios fãs. Segundo ele, nós ouvimos suas músicas sem ao menos saber o que elas significam. Além do mais, talvez ele não esteja criticando os verdadeiros fãs, mas as pessoas em geral que ouvem suas músicas. Chegamos à fase final da história: a hora do julgamento ("The Trial"). É um julgamento tipo "Juízo Final".

Floyd é culpado por construir seu próprio muro. Aquele Juiz que aparece dando o veredicto final representa a sociedade, o mundo, as outras pessoas. Tanto é que, no final da música, um grande coro grita: "Derrubem o muro". É a representação da sociedade. Ela não se importa se os motivos que levaram Floyd ao isolamento são válidos, se Floyd teve culpa ou não das desgraças de sua vida. O que importa é que Floyd é um isolado e não pode mais sê-lo. Portanto, o muro deve ser quebrado. E assim se faz.

"Outside the Wall" tem um significado muito bonito: trata das pessoas que estão do outro lado do muro, que amam a pessoa que está isolada, mas não são "vistas" por esta, e algumas delas acabam desistindo. "Afinal não é fácil bater seu coração contra o muro de um louco errante."

CONSIDERAÇÕES FINAIS

THE WALL é uma obra de protesto contra o mundo, as suas bases, e as pessoas que o formam. Waters procurou demonstrar como cada fator influenciou a vida do personagem, e como pode influenciar a vida de cada um de nós. O Governo e a guerra lhe tiraram o pai, sua mãe aprofundou seu isolamento com sua superproteção, a escola alienou todos a sua volta, e a mulher o traiu por causa do desinteresse que, por sua vez, foi gerado pela revolta contra os fatos acima citados. Tudo o empurrou para o isolamento.
Para Floyd, o mundo estava errado. Mas para o mundo, quem estava errado era Floyd. Ele era o isolado, o diferente, o louco.

Quantas vezes isso não ocorre na nossa vida: enquanto nós podemos ver claramente inúmeros erros grotescos na sociedade, e nas pessoas, quando vamos falar com estas pessoas sobre o que está errado, quem acaba se passando por alienado somos nós mesmos. O próprio Roger Waters foi taxado de depressivo pela crítica por causa do THE WALL. Isso ocorre pela primeira vez geralmente logo na idade escolar, onde já podemos enxergar as diferenças entre nossos colegas.
Daí, quando nos vemos diante de um dilema como este, nosso instinto acaba tomando uma decisão, de nos juntarmos aos alienados ou não. Se o nosso instinto acatar a segunda opção, o muro começa aí, e só vamos nos dar conta dele bem mais tarde...

Quebrar o muro significa mudar o mundo, para que não precisemos mais ficar isolados dele. Mas isso é muito difícil, Floyd não conseguiu. Ao invés de ele quebrar o muro, a sociedade é que o derrubou. Ter o muro derrubado significa ter suas idéias expostas e ridicularizadas pela sociedade, a voltar a ser chamado de “alienado” pelas pessoas que se julgam normais.
A Obra só terminou realmente com The Final Cut que é mais ou menos os restos de The Wall que Dave achava desnecessário, que fala mais sobre a Guerra e o sofrimento de Roger pela morte de seu falecido pai. Mas essa já é outra História.

Fonte: The Wall - Uma obra de arte conceitual - Especial http://whiplash.net/materias/especial/000242-pinkfloyd.html#ixzz1lWvVdkda

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