O blog TAVERNA DOS PETULANTES é formado por seis amigos, todos estudantes da Turma 85 do curso de medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que tem como intenção escrever sobre variedades, ou seja, um espaço aberto, sem delimitações ou barreiras. Aqui você encontrará de tudo um pouco nas nossas colunas, onde cada um tem a liberdade de escrever sobre o que quiser. Mas nossa principal intenção é aumentar a voz de quem quer falar, não hesitando em nada. Somos jovens e livres, temos que aproveitar esses dois fatores, e temos como principal intenção levar a verdade ao leitor, menos do que isso não é decente. Como a TAVERNA DOS PETULANTES é um espaço aberto, sinta-se a vontade para opinar, criticar, colaborar, corrigir, elogiar (falar mal também), esse espaço é seu, leitor, somos apenas seus humildes e queridos empregados. Desde já agradecemos a todos que nos visitarem.

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sábado, 4 de junho de 2011

Sobre a manifestação dos estudantes

“A liberdade de mercado permite que você aceite os preços que lhe são impostos.” (Eduardo Galeano)
“Nos olhos de um jovem arde uma chama, nos de um velho brilha uma luz.” (Victor Hugo)

O movimento estudantil da capital capixaba vem fazendo incursões desde o início do ano contra o contínuo aumento exorbitante das passagens de ônibus e pelo passe livre. No entanto, há alguns meses a luta foi paralisada para, dia 2 de Junho, ser retomada com força. Para alguns a manifestação é um descabida; para outros, justa e necessária.

Na última sexta-feira, dia 3 de Junho, um dia após a polêmica manifestação, o movimento estudantil paralisou novamente as ruas de Vitória, numa demonstração de força. Mas desta vez o movimento contava com milhares de estudantes, a adesão foi grande depois das pessoas verem a covardia da polícia, muitos se sensibilizaram com a causa e foram às ruas. A concentração deu-se, inicialmente, no final da tarde em frente à UFES, bloqueando a Avenida Fernando Ferrari.

Neste momento eu e mais dois amigos que escrevem para este blog – Hana e Thomaz – não chegamos há tempo, quando chegamos a Fernando Ferrari não havia nada mais que faixas penduradas nas cercas da Universidade e alguns policiais e uma pequena cavalaria fazendo ronda. Ao sabermos que os estudantes dirigiam-se à Terceira Ponte voamos baixo no carro de Thomaz para lá, não queríamos perder nada. Para nossa surpresa as imediações da ponte estavam calmas, com algumas pessoas em seus prédios, esperando algo acontecer. No entanto, ao chegarmos mais próximos vimos um cenário aterrador, muitos policiais esperando, ao que parecia, uma guerra. Havia uma cavalaria de respeito, uma tropa de choque com escudos e toda aparelhagem necessária para uma revolta armada, alguns carros enormes que pareciam uma espécie de blindados. Parecia um cenário de guerra, sem exagero. E dava medo. Perguntávamos-nos para que tudo aquilo, pois o que vinha lá atrás eram apenas estudantes, assim como nós três, de mãos abanando, cantando, gritando palavras de ordem, reivindicando melhorias.

Não havia como não se sensibilizar perante um cenário daqueles, qualquer um que visse aquilo sentiria a mesma coisa que nós. Enquanto a manifestação não chegava conversamos brevemente com alguns jornalistas, e adquirimos informações de que alguns estudantes foram presos e torturados durante a noite anterior por causa manifestação, que a força policial foi descabida. Além disso, a ordem partiu do Secretário de Segurança do Governo do excelentíssimo Casagrande, o mesmo que no dia 19 de Maio exigiu a desocupação de milhares de pessoas pobres em Aracruz – episódio que foi brilhantemente abordado pela minha amiga Paula neste blog.

Estes dois fatos – a repressão da manifestação dos estudantes e a desocupação em Aracruz – faz-nos pensar para quem o Governo do Estado do Espírito Santo governa, cujo slogan é “Um Novo Espírito Santo”. Acho que o novo vem do ‘boom’ da economia capixaba, dos grandes investimentos em nossa terra, pois a questão social continua deixada de lado, não há nada de novo. Dessa forma, os empresários continuam a espoliar a população, especialmente os empresários de ônibus, que todo o dia primeiro de Janeiro sobem as passagens exorbitantemente e a população mantém-se calada, quer dizer, mantinha-se.

Na Democracia diz-se que você pode protestar. Contudo, a verdade é que você pode protestar desde que esteja em pequeno grupo, que não interfira no andar do sistema, como, por exemplo, que o trabalhador chegue, religiosamente, no horário para ser explorado pelo seu patrão que, em contrapartida, paga-lhe um salário miserável; que você, também, não atrapalhe no trânsito de mercadorias e de pessoas. Indubitavelmente essas manifestações de paralisação causam problemas à sociedade como um todo, porém faço-lhes uma pergunta: você prefere ser explorado?

Essas manifestações são necessárias, assim como as greves. Estes são mecanismos de regulagem da sociedade, se eles não existirem seremos nada menos que máquinas recebendo ordens do Governo e das empresas, e não seres humanos que buscam melhorias sociais, em suas condições de vida. Ora, e para impedir qualquer manifestação há a polícia. Lá está ela sempre a proteger a causa dos poderosos, dos empresários, dos governos. O mais engraçado é que a polícia é formada basicamente por pessoas das classes média e baixa – justamente as mais atingidas pela precariedade social –, isto é, ela volta-se contra sua própria classe, pois quem briga por algo nesse país são, basicamente, estas duas classes.

Só quem está presente, só quem vê com seus próprios olhos – e não com os da mídia – sabe perfeitamente o que se passa, sente o que a manifestação estudantil deseja, e que são desejos nobres. Almejam justiça, nada mais. Ou você acha que vale a pena pagar o atual preço da passagem para andar num ônibus lotado? Há, ainda, aqueles que repudiam a ação estudantil, chama de desnecessária, porém se os preços da passagem caírem adorarão, pois economizarão. Para estes, fica o questionamento: como lutar por isto? Pedindo ao governador por meio de cartas que serão completamente ignoradas? Fechar parcialmente as ruas? Ora, a história da humanidade demonstra que só por meio da ação é que se obtém mudança na conjuntura, deve-se constranger as autoridades. Isso é fato.

Além disso, não consigo entender por que a sociedade não apóia completamente os estudantes, seus próprios filhos. Para muitos a ação estudantil é irracional, mas para mim irracional é sujeitar-se a imposições, viver a vida como se nada acontecesse, ser explorado discaradamente. Quem anda de automóvel acha péssimo as manifestações, ter de ficar parado no trânsito enquanto um bando de jovens protesta, pois esqueceram como é ótimo enfrentar o ônibus lotado e pagar um absurdo pela passagem. A sociedade é assim, individualista, mesquinha, cada qual preocupado com seus problemas. Se fosse uma manifestação contra o aumento exorbitante da gasolina, a situação seria diferente, todos apoiariam e nem haveria distorção pela imprensa, visto que a sociedade, neste exemplo, é afetada completamente, desde o mais pobre ao mais rico.

Voltemos à manifestação propriamente dita. Estávamos nós três parados próximo à Praça do Cauê, quando ouvimos som de alto-falante e fomos o mais rápido possível à manifestação. Sabíamos que não eram poucos, entretanto ficamos impressionados com a quantidade, eram milhares de jovens, cantando e gritando palavras de ordens. Houve um momento em que pararam, com receio dos policiais que sabiam estar nas imediações da ponte, mas nenhum deles sabia exatamente o que os esperava, nós, que vimos o cerco, sabíamos exatamente o que havia lá na frente, estávamos receosos por uma nova radicalização da polícia. Desta vez, entretanto, o número de manifestantes era bem maior, quatro ou cinco vezes maior. No meio da multidão havia faixas, flores e bolas brancas, cartazes de repúdio à polícia e ao excelentíssimo governador do estado.

A multidão parou, parecia pegar fôlego, coragem para seguir em frente, para um ‘novo combate’, enquanto cantos ecoavam pelo final da Reta da Penha, tais como: "Eu não acho, mas Casagrande acha que o povo precisa de bala de borracha!". Aqui vale um parêntese, ninguém estava armado, era um movimento puramente pacífico, por isso de nada valia o cerco montado pela polícia lá na frente, tampouco a radicalização desta no dia anterior, atirando balas de borracha, bombas de gás, deram eventuais chutes, porradas e prisões. Inclusive, bombas de gás foram delicadamente lançadas pelos policiais para dentro da  UFES - a única universidade pública do estado. Sobrou para os estudantes, no meio disso tudo, lançarem pedras nos policiais, numa tentativa de defesa, ou você, se estivesse lá, daria sua face para ser batida? Diga-me, se você levasse uma porrada daria a outra face também? Os mais puritanos acharam um absurdo a radicalização dos estudantes, mas será que essas mesmas pessoas fariam diferente? Um governo que ataca estudantes desarmados não merece o mínimo de respeito, e a cada radicalização por parte dele, mais estudantes e mais a sociedade irá se sensibilizar com isso.

Enfim, estávamos, no fim da Reta da Penha, mais de três mil estudantes, receosos, otimistas, corajosos. Até que chegou a informação de que o cerco foi desmontado, a polícia tinha sido dispensada. O momento foi de pura euforia, a multidão, uma espécie de onda, que havia tomado todas as pistas no sentido de Vitória-Vila Velha, seguiu adiante, feliz, sorridente, cantando ainda mais. Quando se chegou a Praça do Pedágio fogos de artifício ecoaram, todos correram em direção aos fogos, que vinham do início da manifestação, eles chamavam para que a praça fosse tomada, para que todos se juntassem imediatamente. De fato, não demorou muito para que ela fosse tomada e a multidão cantasse em uníssono, triunfante.

Eu, Hana e Thomaz, subimos em uma das muretas próximas às cabines de pedágio para termos uma visão melhor do local, mais ampla, de onde tiramos fotos e fizemos vídeos. As cancelas foram liberadas no sentido Vitória-Vila Velha, daí em diante ecoou: “Ei! Pode passar, hoje o Casagrande vai pagar!” O fluxo de carros, progressivamente, foi liberado, os motoristas passavam sorridentes, aplaudiam efusivamente, buzinavam freneticamente em agradecimento. Em dado momento, ainda, todos pulavam cantando: “Quem não pula quer tarifa!”, enquanto os veículos passavam. Nós, pouco acima do chão, na mureta do pedágio, assistíamos à comovente cena.

O fato de irem à Terceira Ponte foi uma sagaz demonstração de que o movimento estudantil está estreitamente vinculado a todos os níveis da sociedade, pois eles não precisavam ir lá tentar liberar as cancelas – elas foram liberadas pouco antes de chegarmos –, mas o fizeram para mostrar força, adquirir apoio das pessoas, atrapalhar a logística dos empresários. Soava como: “ao contrário do que vocês pensam, não somos baderneiros, queremos seu apoio, queremos um estado mais justo”. Claro que na questão do pedágio o movimento estudantil não tem força suficiente, e nem é de sua alçada, pois é a sociedade capixaba como um todo que deve se mobilizar. Vale ressaltar que houve alguns atos de vandalismo, algumas câmeras foram danificadas na Terceira Ponte, mas quem fez isso deve ter sido uma dúzia de estudantes, porque o movimento em si é bem pacífico, se você duvida, da próxima vez vá até lá e veja com seus próprios olhos, ao invés de ficar trancafiado em casa e ler o que os jornais conservadores noticiam. Mas afinal, o que é ter algumas câmeras danificadas perante a quantidade de dinheiro que a Rodosol adquire com o consórcio por dia naquela ponte? Garanto-lhes que, apesar desse prejuízo, ela ganhou rios de dinheiro ontem. Pergunte a qualquer vilavelhense como ele é feliz por ter de pagar um preço absurdo para vir à capital todos os dias.

Em suma, a manifestação dos estudantes nada mais é do que um movimento pacífico, buscando ansiosamente pela redução dos preços das passagens, para toda a sociedade. Aliás, querer que adultos juntem-se ao movimento é pedir demais, porém o apoio é imprescindível, pois o que o movimento estudantil deseja é nada utópico. Acho até que todos os jovens deveriam, pelo menos uma vez na vida, participar de uma ação dessas, pois ser jovem é ser revolucionário, se você não sente em seu íntimo a chama da indignação perante as injustiças, sinto-lhe dizer que você não tem o melhor da juventude.

Por fim, são nessas manifestações que surgem bons políticos, pessoas que conhecem verdadeiramente os meandros das causas sociais. Não precisamos de políticos que vivem com seus whiskys, charutos, que conhecem perfeitamente o jogo político, que vivem de interesses. Não precisamos de novos ‘Fernandos Henriques’, de conservadores, o Brasil necessita de militantes, de quem batalhe por causas justas, enfrentem os exploradores, que tragam justiça à sociedade.


*Reportagem do dia 2 de Junho: http://www.youtube.com/watch?v=ZV2LGwG7ZHo

Um comentário:

thomaz caz disse...

vale ressaltar, que os policiais não são os verdadeiros culpados, e sim seus comandantes são, pois os policiais como todo assalariado cumprem ordens. Punição para os comandantes que ordenaram a covardia vista na quinta feira, e se governador e secretario estao envolvidos, merecem também ser punidos!