O blog TAVERNA DOS PETULANTES é formado por seis amigos, todos estudantes da Turma 85 do curso de medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que tem como intenção escrever sobre variedades, ou seja, um espaço aberto, sem delimitações ou barreiras. Aqui você encontrará de tudo um pouco nas nossas colunas, onde cada um tem a liberdade de escrever sobre o que quiser. Mas nossa principal intenção é aumentar a voz de quem quer falar, não hesitando em nada. Somos jovens e livres, temos que aproveitar esses dois fatores, e temos como principal intenção levar a verdade ao leitor, menos do que isso não é decente. Como a TAVERNA DOS PETULANTES é um espaço aberto, sinta-se a vontade para opinar, criticar, colaborar, corrigir, elogiar (falar mal também), esse espaço é seu, leitor, somos apenas seus humildes e queridos empregados. Desde já agradecemos a todos que nos visitarem.

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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Mais uma vez, a falta de educação!

Este blog, felizmente, tem servido para nos tirar do inóspito mundo campus-cadernos-livros. Tivemos o prazer de sermos lançados no brilhantíssimo universo cultural de Linik e no domínio informativo do Thomaz - sempre ligado no que acontece no planeta (ao contrário de tantos de nós, que já não sabemos mais o que é uma matéria de jornal ou um artigo de opinião desde as redações no vestibular).
Eu, entretanto, serei chatinha (mais?) e trarei para a Taverna dos Petulantes o mundo acadêmico. Afinal, que aluno de medicina não acaba sempre falando de uma prova, de uma doença ou de um professor em plena sexta à noite à mesa do bar? Não há como negar: estamos viciados. E que atire a primeira pedra quem nunca discutiu questão de prova ao som daquele sertenejo de fim de churrasco de turma.
Enfim, movamo-nos ao que interessa!

Há algum tempo, entediada com a rotina universitária que levo (tão empolgante quanto um cronograma do ciclo básico de medicina pode ser) tenho me atentado às engrenagens por trás desse sistema um tanto problemático. Um dos fatos que, de repente, me saltou aos olhos foi o que se tornou a relação aluno-professor.
Se olharmos para a época quando grandes escolas não existiam, veremos jovens aspirantes à medicina tendo como única opção encontrar um médico que o aceitasse como aprendiz. Esse tutor seria praticamente sua única fonte de informação, seu contato com o meio profissional, sua possibilidade de imergir na teoria e na prática. Tomando como base esse ensino antigo da medicina, há quem diga que o acadêmico deve estar ávido e de prontidão para absorver tudo o que puder de seus professores. Há o ideal de um convívio permeado de diálogo, troca de conhecimentos, apresentação às boas fontes de formação, aquisição de boas referências... Daí chamá-los mestres.

No entando, não é difícil perceber que o percurso mestre-discípulo em algum ponto foi perdido e tomou lugar um ringue desagradavelmente baseado nas rivalidades entre alunos e professores. É fácil perceber que muitos dos nossos doscentes parecem totalmente alheios ao desafio de perpetuar seus conhecimentos e pensamentos e assim, de alguma forma, perpetuar a si próprio. Parecem que esqueceram o poder que tem diante de uma classe de jovens. Não o poder ameaçador dos critérios subjetivos de avaliação, da prova final ou de uma reprovação. Pensemos muito além disso! Refiro-me à possibilidade de influenciar ou inspirar tantas mentes e caráteres em formação.
Mas não nos apressemos a criticar os “educadores”. Há muita culpa para, nós, alunos. Com que frequência não vemos na cantina rodas inteiras criticando, rindo, xigando um professor qualquer? (são poucos os que escapam). Não pretendo ser demagoga em meu discurso; é fato que muitos dos citados fazem por merecer as acusações que recebem. Contra estes precisamos militar: deixar a falação e agir para que eles mudem ou para que alguém os mude dali. Contudo, qualquer mudança precisa começar em nós. Qual a nossa responsabilidade nessa rivalidade instituída? Suspeito que, como estudantes, formamos uma cultura da crítica, na qual já estamos pré-dispostos a afirmar que o professor é um péssimo profissional ou uma má pessoa ao menor deslize que lhe ocorra diante da turma. Não estamos usando do nosso poder de coletividade para massacrar precipitadamente aqueles que se dispõem a nos ensinar?

Acredito que a deterioração desta relação aluno-professor seja um dos motivos da baixa produtividade tanto em classe quanto nos outros ambientes de estudo e atuação. Ao perdermos a admiração por aqueles que deveriam ser nossos mestres, estamos em sala de aula por obrigação, desinteressados e sonolentos. Sem um norteamento dado por alguém mais experiente em classe, tentamos estudar de maneira autônoma e aí perdemos tempo a buscar o devido foco. Felizmente (ou não) fomos apadrinhados pela internet que nos salva nas longas empreitadas de estudo. Mas há que se pensar: o santo Google é sem dúvida uma ótima fonte de informação porém é incapaz de nos oferecer a devida Formação Médica!

Mais grave ainda é o que perdemos em termos pessoais. Na ausência da possibilidade de ter um tutor ou verdadeiros mestres ao longo do curso perdemos a chance de compartilhar do intelecto e do caráter que um médico provavelmente construiu ao longo da vida e que deveria ser passado para nós. Este seria, sem dúvida, o melhor meio de formação e a única perspectiva de evolução.

Um comentário:

Eduardo Pandini disse...

Um mestre - no verdadeiro sentido da palavra - deve despertar no aluno o desejo de ser igual a ele. Deve despertar vontade de aprender mais e mais, e não deixar o aluno entediado e encarcerado, com sono, na cadeira. No Básico, e mais especificamente no quarto período, são poucos os verdadeiros mestres. Mas ainda é possível aprender da maneira "tradicional", citada no texto. Depois do Básico, entramos em contato com excelentes professores, mestres de verdade, que sabem o que dizem e fazem o aluno se interessar. Muitos deles trabalham nos ambulatórios do nosso hospital, e todo e qualquer aluno interessado pode acompanhá-los e aprender mais com eles. Infelizmente poucos sabem disso, mas não é difícil ter contato com professores de períodos mais para frente e acompanhá-los em sua rotina ambulatorial. E eu garanto que é possível aprender bastante e gostar ainda mais da Medicina com eles - e de quebra largar um pouco da monotonia das aulas de Micro.